Para ler e viajar: A arte de viajar

De todos os livros que eu já li sobre viagens e sobre o ato de viajar, A arte de viajar, do filósofo inglês Alain De Botton ainda é o que me parece mais ousado, provocativo e interessante. Deve ser por isso que depois dele, nenhuma viagem foi igual.

Vontade, interesse, curiosidade, busca por algo. Afinal, o que nos leva a viajar? Quais são os nossos motivos? Seria porque idealizamos certos lugares? Alain de Botton sai da sua casa em Londres e vai em busca do desconhecido, experimentando os prazeres e as desilusões de se estar fora de casa. Durante a sua jornada, o autor fala das nossas expectativas, do que imaginamos ser o lugar que queremos conhecer, do nosso desejo de possuir a beleza, exotismo e hábito; mas também fala dos aspectos não tão positivos e menos pensados por muitos viajantes: aqueles fatores envolvidos no “chegar lá”. As horas de espera, os lugares lotados, a melancolia, a solidão, os imprevistos, os atrasos, os voos cansativos…

Com ilustrações de imagens de pintores famosos, fotos do arquivo pessoal do autor, desenhos e gravuras, A arte de viajar é uma obra que reúne 9 ensaios em 5 temas principais: Partida, Motivos, Paisagens, Arte e Retorno. Em cada um destes capítulos, o autor analisa suas experiências próprias e de outras pessoas que lhe inspiraram durante as suas viagens. Apesar de escrever relatos muito pessoais, De Botton também utiliza as reflexões e experiências de muitas personalidades, como Nietzsche, Van Gogh, Baudelaire, John Ruskin, Hopper (apenas para citar alguns) para ilustrar os seus relatos. Com uma escrita elegante e equilibrada, Alain De Botton trata a filosofia como algo acessível a qualquer um, sem grandes esforços para que ela seja parte do nosso cotidiano, rotina e das nossas viagens.

"Automat", de Edward Hopper - uma das pinturas citadas e analisadas no livro
“Automat”, de Edward Hopper – uma das pinturas citadas e analisadas no livro. Foto: Google Imagens.

Focado na psicologia individual e nos elementos internos que afetam e são afetados pelas viagens, De Botton leva o leitor para os mais diferentes lugares do mundo acompanhados por diversas refelexões e experiências, mostrando que muitas vezes viajar vem de dentro, viajar é sentir. E é por isso que viajar também pode ser saber ver e apreciar não só o que está longe, mas também o que está ao nosso redor e faz parte da nossa rotina.

“Se nossas vidas são dominadas pela busca da felicidade, talvez poucas atividades revelem tanto a respeito da dinâmica desse anseio — com toda a sua empolgação e seus paradoxos — quanto o ato de viajar. Ainda que de maneira desarticulada, ele expressa um entendimento de como a vida poderia
ser fora das limitações do trabalho e da luta pela sobrevivência. Mas raramente se considera que as viagens apresentem problemas filosóficos — ou seja, questões convidando à reflexão além do nível prático. Somos inundados por recomendações sobre os lugares para onde viajar, mas pouco ouvimos sobre como e por que deveríamos ir — embora a arte de viajar pareça evocar naturalmente uma série de questionamentos nem tão simples ou triviais, cuja análise poderia contribuir, de forma modesta, para uma compreensão daquilo que os filósofos gregos chamavam lindamente de eudaimonia, ou desabrochar humano”.


13 comentários sobre “Para ler e viajar: A arte de viajar

  1. Eu estou a lê-lo e a gostar.
    Em cada página tenho encontrado um pouco de mim, de experiências vividas, de sentimentos e percepções q também senti. Até um trecho do livro fez-me lembrar um trecho da música do falecido cantor português António Variações, qdo diz q só está bem onde não está.:-)
    Mesmo qdo ele escreve sobre lugares q esteve sem nada de especial, mas q tinha a sua poesia, enfim encanto.

    O Miau

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    1. “só está bem onde não está” – genial! que bom que está gostando do livro, eu adorei e depois dele nenhuma viagem foi igual. Quando terminar a leitura, volta pra contar o que achou 🙂

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