Entre Praga e a metamorfose: Kafka

Quando decidi morar em Praga, confesso que não sabia muito sobre a cidade, além de informações básicas. No entanto, um fato sempre me chamou a atenção: eu ia morar na cidade onde nasceu um dos meus escritores favoritos, Franz Kafka. Sei que parece bobagem e que na prática isso não significa muito, mas gostei de ter percebido que Praga sempre ocupou um lugar especial em mim, desde o nosso primeiro contato, quando li os livros de Kafka.

E aí tudo começou quando, no dia 03 de julho de 1883, nascia Franz Kafka na cidade de Praga. Com ele, nasceu um mundo novo, uma nova maneira de pensar e muito mais força e intensidade às palavras. Vieram também novas definições para a agonia, o isolamento, a solidão e o desespero. Com tantas características, nem me surpreendo que seu nome tenha se transformado em um adjetivo tão cabível e atemporal, com tanta propriedade. Kafkiano. Surreal, absurdo, confuso.

Nos seus livros, Kafka critica as relações humanas, fala de sentimentos, expõe seus medos, escreve sobre angústias e desespero. Entre suas linhas cheias de metáforas, eu leio com atenção tudo o que ele me apresenta e fico em dúvida se esses medos são meus ou dele, se esse desespero sou eu que sinto, ou é só ele.

A claustrofobia que Gregor Samsa sente durante “A Metamorfose” enquanto se torna um inseto e nada pode fazer para evitar, os pensamentos surreais e insanos da personagem principal de “O Castelo”, os desabafos reais escritos em “Carta ao Pai”; o desespero do Senhor K, em “O Processo”, por não saber o motivo da sua condenação, as descrições sobre a sua vida e sobre Praga em “Cartas para Milena”. Kafka despeja sentimentos, fala de tudo sem a intenção de esconder os detalhes da sua vida interna e externa. No fim, eu sei que esses medos são meus e dele também. Que essas angústias e desesperos, são nossos.

É por sua obra que beira o surreal e o absurdo, por essa crise de identidade que vive em conflito entre mundo e indivíduo; que entendemos que é disso mesmo que se trata a vida, que se trata o mundo. É tudo assim, surreal, absurdo, confuso. Kafkiano.

*Ontem, dia 03 de julho seria o aniversário de Franz Kafka. O post veio com atraso devido ao post sobre Nicholas Winton*


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